Inclusão

Avaliação precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ajudar tratamento

Segundo estudo deste ano do Center for Desease Control (CDC),  em 11 comunidades nos Estados Unidos, cerca de 1,7%, ou 1 a cada 59 crianças foram identificadas com autismo. Psicóloga e neuropsicóloga, PhD pela USP e pós-doutora pela Université Sorbonne Paris Cité, Camilla Mazetto, alerta que, de acordo com o  relatório, é preciso avaliar o mais cedo possível crianças com atrasos no desenvolvimento.

A detecção precoce, avaliação, diagnóstico e tratamento de indivíduos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é cada vez mais importante. Muitas crianças convivem com o autismo. Desde pequenas até quando crescem e entram na vida adulta, pessoas com autismo precisam dos serviços e suportes de saúde. Avaliações compreensivas para indivíduos com TEA ou com dificuldades de comunicação social e de desenvolvimento global, inclusive crianças muito pequenas, são essenciais para o sucesso do tratamento.

Esforços contínuos são ainda necessários para garantir que todas as crianças com autismo sejam identificadas e recebam os cuidados e serviços de que necessitam. “Muito mais pode ser feito para assegurar que as crianças com autismo sejam avaliadas o mais cedo possível, depois que as preocupações com o desenvolvimento são reconhecidas”, diz Camilla Mazetto, psicóloga e neuropsicóloga, PhD pela USP e pós-doutora pela Université Sorbonne Paris Cité, especialista em Psicologia do Desenvolvimento Humano.

Uma avaliação abrangente do desenvolvimento é essencial. De acordo com Camilla, uma revisão completa de como uma criança brinca, aprende, comunica, age e se move, e se essas características mudam ao longo do tempo, são primordiais para se chegar no diagnóstico e tratamento corretos.

Recentemente, pesquisas do CDC nos Estados Unidos, para o monitoramento do autismo e distúrbios desenvolvimentais (Autism and Developmental Disabilities Monitoring – ADDM Network) ajudaram a entender mais sobre o número de crianças com o autismo, os problemas destas crianças e a idade com a qual cada criança é primeiramente avaliada e diagnosticada, em países desenvolvidos.

A porcentagem estimada de crianças com TEA foi maior que nos relatórios anteriores. Cerca de 1,7%, ou 1 a cada 59 crianças foram identificadas com autismo. Estudos anteriores estimaram que o autismo estava em cerca de 1 para 150 (ou 0,66%) a 1 para 68 (ou 1,5%) crianças nos Estados Unidos.

As descobertas são importantes, para: 1 -Promover a identificação de crianças com autismo o mais cedo possível. 2 – Planejar serviços para crianças e familiares que vivem com o espectro e treinar profissionais para fornecer este atendimento. 3 – Incentivar novas pesquisas sobre o futuro do autismo e 4 – Informar políticas públicas que promovam novas abordagens e atendimento nos serviços de saúde para indivíduos com autismo.

Estudos recorrentes serão feitos para entender melhor se a porcentagem de crianças com autismo está mudando ou se permanece a mesma.

Apesar das mudanças recentes nos critérios do diagnóstico do autismo, essas tiveram pouco impacto na porcentagem de crianças em idade escolar diagnosticadas com o Espectro do Autismo, segundo o relatório do CDC.

Em 2013, a American Psychiatric Association alterou os critérios do diagnóstico do Autismo. A partir de 2014, a ADDM incorporou um novo critério e definição de casos de risco, com base nesses critérios revisados. Estimativas da porcentagem de crianças identificadas com autismo com base na antiga e nova definições de casos foram semelhantes, especialmente entre crianças com um diagnóstico ou elegibilidade para serviços de educação especial para o autismo. Pode ser, porém, cedo demais para determinar o impacto a longo prazo das mudanças nos critérios de diagnóstico sobre o autismo em sua prevalência e características. “Para alguns profissionais da área, há uma ‘epidemia do conhecimento’ que seria responsável pelo aumento dos casos de autismo em pesquisas como o relatório da ADDM. Crianças que antes não seriam identificadas, por apresentarem sinais mais leves são agora diagnosticadas. Mas o diagnóstico cada vez mais precoce precisa ainda avançar, uma vez que crianças identificadas com autismo ainda não estão recebendo a avaliação de desenvolvimento o mais cedo possível, como poderia ser”, afirma Camilla.

De acordo com o estudo, a maioria das crianças identificadas com autismo teve o primeiro registro de preocupação com o desenvolvimento na idade de  3 anos. Entretanto, menos da metade das crianças com autismo recebeu uma avaliação abrangente do desenvolvimento para essa mesma idade. Para Camilla, quanto mais cedo uma criança é avaliada quanto a atrasos no desenvolvimento, quanto mais cedo ele ou ela puder lidar com esses atrasos, mesmo que a criança ainda não tenha recebido um diagnóstico definitivo de autismo, melhor o tratamento.  Portanto, um atraso é a primeira preocupação e a primeira avaliação do desenvolvimento pode favorecer as crianças que precisam ser conectadas a serviços de que necessitam.

De acordo com o estudo, crianças identificadas com o TEA não estão recebendo o diagnóstico tão cedo quanto deveriam. Menos da metade das crianças identificadas com autismo recebeu seu primeiro diagnóstico por volta da idade de 4 anos, apesar de terem preocupações sobre o seu desenvolvimento observado em seus registros antes dos 3 anos de idade. Em algumas comunidades, muitas crianças foram diagnosticadas mais cedo. Isto sugere que as diferenças regionais nas práticas diagnósticas e no acesso a serviços se mantém.

“Muitas mudanças vem ocorrendo na área de descoberta e diagnóstico do autismo. O certo é que o autismo continuará a ser monitorado nos próximos anos por diferentes entidades”, observa a PhD. Ela ainda lembra que os pais devem dar passos importantes se suspeitarem que seu filho pode ter o TEA. Primeiro é preciso falar com o médico da criança sobre as suas preocupações. Nos Estados Unidos, é possível ligar para o programa de intervenção precoce local ou sistema escolar para uma avaliação gratuita da criança, o que não ocorre no Brasil.

Muitas crianças com atrasos de desenvolvimento não são identificadas até depois de iniciarem a escola. “A intervenção precoce (antes da idade escolar) pode ter um impacto significativo na capacidade da criança de aprender novas habilidades, bem como reduzir a necessidade de intervenções dispendiosas ao longo do tempo”, observa a psicóloga. De acordo com ela, os pais devem lembrar, nunca é tarde demais para obter ajuda para seu filho, e um diagnóstico de autismo por um médico não é necessário para uma criança começar a receber alguns tipos de serviços.

 

 

Artigos relacionados

Deixe um comentário

Fechar