Encerrado o processo eleitoral de 2022, aos poucos, estamos vendo a decantação dos resultados nas mais variadas esferas e seus impactos futuros na administração pública nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e na esfera estritamente política.
É possível ver que ocorreram diversas alterações no ambiente político em Petrolina, que trarão consequências em todo o Vale do São Francisco. A primeira grande alteração no cenário é que o grupo de FBC reduz seu peso político à medida que, mesmo mantendo a Prefeitura de Petrolina, com a renúncia de Miguel Coelho e este repete sua votação de prefeito em 2020, perde a vaga de um Senador da República à medida que encerra o mandato de Fernando Bezerra Coelho. Essa perda é significativa devido à redução do poder de influência não só no cenário local, mas também no âmbito estadual e federal, pela capacidade de articulação e influência adquirida pelo mesmo no Congresso Nacional. Vale salientar que foram mantidos os mandatos dos filhos Fernando Filho a Deputado Federal e Antônio Coelho a Deputado Estadual, ambos com expressiva votação no Estado. Porém, mesmo assim, os dois grandes “derrotados” do processo eleitoral em Pernambuco é grupo de FBC porque perde um senador e a eleição de governador com Miguel Coelho e o PSB que perde o Governo do Estado. É importante ressaltar que a política sempre é instrumentalizada como um elemento de curto prazo, porém, a depender da dinâmica da temperatura e pressão do cenário político o ex-prefeito Miguel Coelho sinalizou com as credenciais para vir, no futuro, disputar novamente o cargo de Governador do Estado. Contudo, será difícil ter novamente um quadro favorável a ele como foi em 2022, pelo fato do mesmo ter o pai senador e ter saído da Prefeitura de Petrolina direto para a disputa.
Outro grupo que sai derrotado das eleições é do ex-Prefeito Odacy Amorim já que nem conseguiu sua eleição de Deputado Estadual e tampouco da sua esposa, a Deputada Dulcicleide Amorim, a Deputada Federal. A derrota de ambos na disputa legislativa coloca dificuldades no seu objetivo de voltar a disputar a Prefeitura de Petrolina em 2024 pela federação partidária formada pelo PT, PC do B e PV. Porém, o Deputado poderá assumir o mandato de Deputado Estadual já que a depender das conversações com a Governadora eleita Raquel Lyra e a federação formada pelo PT o mesmo possui reais chances de assumir a vaga na ALEPE.
As candidaturas de Cristina Costa e Gilmar Santos a Deputada(o) Estadual e Patrick Campos a Deputado Federal pelo PT cumpriram o papel de delimitar uma posição de seus nomes perante o eleitorado, buscando ampliar espaço para 2024. A ex-Vereadora Cristina Costa não soube sair no devido tempo da camisa de força da insegurança da sua candidatura durante meses, algo que a prejudicou na caminhada, enquanto que o Vereador Gilmar Santos continuou falando para o seu nicho específico do segmento cultural e estudantes sem conseguir ter um discurso mais amplo que pudesse vir a agregar outros estratos eleitorais. A candidatura a Deputado Federal do Patrick Campos sinaliza como um nome que possui potencial de crescimento dentro da legenda não só em Petrolina, mas em todo o Estado de Pernambuco, podendo estar numa sinalização clara de um nome a ser construído pelo partido para 2024 ou 2026. Já a candidatura da jovem bióloga Denise Lima a Deputada Estadual pelo PC do B buscou muito mais construir um espaço mais amplo no ambiente político local e pautar uma agenda política inovadora que é a questão da sustentabilidade, ambiental e da mulher. Foi uma candidatura que enfrentou inúmeros gargalos, a começar pelo fato de, num primeiro momento, não superar o isolamento sem conseguir viabilizar dobradinhas com candidaturas locais e, segundo, a incapacidade de realização da pré-campanha já que o esposo da candidata adoeceu ainda na primeira semana de janeiro, vindo a óbito em março e a candidatura só foi confirmada mesmo em junho, não existindo mais tempo para muitas articulações e alianças em vários municípios com potenciais de voto.
Assim, diante deste novo cenário com o surgimento da Federação PT, PC do B e PV, vindo agregado a eleição do Presidente Lula, fica claro que estão postas as condições reais para o lançamento de uma candidatura própria a Prefeitura de Petrolina e esse novo quadro sinaliza que teremos um intenso debate sobre a sucessão, pelas características da nova agremiação e em virtude de estar com as bênçãos do Governo Federal e uma conjuntura que, a priori, sinaliza favoravelmente devido a tempo de TV e fundo eleitoral significativos.
Outra candidatura que sinalizou uma boa capacidade de se posicionar foi a da Vereadora Maria Helena pelo União Brasil, mesmo partido de Miguel Coelho, e enfrentou desde o início uma enorme restrição do grupo Coelho em virtude da prioridade na eleição de Antônio Coelho.
Maria Helena acabou sendo empurrada para a candidatura por sua própria base eleitoral já que ela é Vereadora pelo 6º mandato e tem dado sinais de esgotamento com relação à Casa Plínio Amorim. Mas, a Vereadora agora aparece com uma maior robustez para uma composição majoritária em 2024 ou tentar novamente em 2026.
A candidatura de Lucinha Mota a Deputada Estadual acabou sendo uma grande frustração em termos de volume de votação em virtude da capilaridade que seu nome adquiriu em todo o Estado de Pernambuco já que a mesma realizou uma pré-campanha tendo como eixo uma caminhada Petrolina – Recife, buscando justiça para o assassinato da menina Beatriz, sua filha, o que proporcionou uma enorme penetração na mídia pernambucana. Ainda assim, Lucinha Mota obteve uma votação significativa em Petrolina, ficando na primeira suplência e bastante cotada para assumir uma vaga na ALEPE já que está com a Governadora eleita Raquel Lyra desde o início da campanha. Esse novo cenário a coloca como um nome a ser avaliado para a disputa majoritária em 2024 para a Prefeitura de Petrolina.
Vale salientar que Lucinha Mota adentra ao PSDB pelas mãos do ex-Prefeito Guilherme Coelho, que tem sinalizado que é pré-candidato a Prefeito de Petrolina em 2024. Guilherme não obteve expressiva votação, mas possui o recall de ter sido Prefeito e filho de Osvaldo Coelho. Sem dúvidas é um nome que sinaliza uma candidatura forte ainda mais agora que é aliado de primeira hora da futura governadora Raquel Lyra. Guilherme chega em 2024 como quem “chega dando uma voadora” e será difícil para a família Coelho construir uma reaglutinação se não for dentro dessa nova lógica.
Um outro nome em torno do qual existia uma enorme expectativa na sua eleição para Deputado Estadual era o do jovem advogado Júlio Lóssio Filho, o Julinho. O abrir das urnas sinalizou uma repetição da sua votação para Prefeito em 2020 e possibilitou o mesmo a ficar na terceira suplência, um cenário que, no curto prazo, sinaliza dificuldade de assumir o mandato. O ambiente político local mostra claramente a necessidade de um reposicionamento político sob vários aspectos do Grupo Lóssio e a realização de um resgate mais efetivo dos feitos do ex-Prefeito Júlio Lósio (pai).
Por fim, tivemos claramente uma troca do representante do PSB como Deputado Federal à medida que praticamente os votos de Gonzaga Patriota foram migrados, em Petrolina, para o Deputado Federal eleito Lucas Ramos. Essa nova realidade coloca Lucas Ramos como sendo também um dos nomes cotadíssimos para a disputa de 2024. Lógico que essa condição vai depender de inúmeros fatores, porém, o mandato e a sua votação o coloca no páreo para a disputa.
O fato é que, em Petrolina, tivemos o surgimento de um novo ambiente político pós-eleições 2022, que delimita o espaço político de alguns, neutraliza outros, surgem novos atores, revitaliza outros… Enfim, sem dúvidas é um novo cenário, uma “Nova Petrolina”. O ambiente mostra um poder mais pulverizado e a necessidade de maior articulação devido a essa pulverização de blocos políticos, o que deverá se converter em forte disputa em 2024.
E o atual Prefeito Simão Durando como fica nesse novo cenário??? Bem, isso será objeto do próximo artigo. Chá e caldo de galinha é bom para esperar. kkk
Geraldo F. S. Junior – Foi Secretário de Planejamento em Petrolina e Salgueiro; Coordenador Geral de Trânsito de Prefeitura de Campina Grande – PB. Bacharel e mestre em Economia/UFPB. Foi professor de economia de várias universidade/faculdades no Nordeste; Coordenou/elaborou planos de governos para as cidades de Petrolina, Salgueiro, Campina Grande, Paulo Afonso, Patos, Lagoa Grande e para os governos estaduais da Paraíba e Pernambuco.